19 novembro 2016

Adestrando meu C(oraç)ÃO



Capitão, Pitão, Capi

Então, agora temos um cachorro! Adotamos um belo pastor alemão, ele chegou quatro meses atrás com quase oito meses de idade e muita energia pra gastar. Batizamo-lo de “Capitão”, encurtado para “Pitão” pelo meu filho mais velho (dois anos), ou “Capi” quando não queremos que ele saiba que estamos falando dele. Hoje, com onze meses de idade, estamos tentando adestrar o peludo para ver se a casa volta ao seu estado de sossego, afinal nesse meio tempo nasceu Davi! Gerenciar um recém-nascido e uma criança pequena já era tarefa difícil em meu imaginário pré-parto, o que eu não esperava era que a crise de ciúme e agressividade viria do cachorro e não do irmão.

Assim que chegamos do hospital descobrimos de primeira mão que nosso amado novo integrante da família nos daria muito (muito!) trabalho. Sua reação ao ver-me com o neném no colo foi tentar me engolir ou engolir o neném, não ficou muito claro, corri pra dentro sem dar tempo de ter certeza; enquanto isso, Pedro fechava a porta na cara do trambolhudo ao som de seus latidos nervosos. 

No primeiro dia de treino o adestrador já nos deu algumas dicas e expos conceitos básicos. Ficou claro que todos nós estávamos sendo adestrados, não só o Capi. A ideia central do adestramento é de fato muito desafiadora e eu fiquei mentalmente fazendo paralelos com a minha caminhada de fé. O objetivo primário é fazer o Capitão olhar para mim, para que fixando sua atenção em mim ele receba ou não a aprovação para suas ações. O cachorro deverá ter seus ouvidos atentos para a voz do dono acima de qualquer outro ruído que chame sua atenção, isso a ponto de frear seu instinto natural de latir para uma visita ou comer cocô durante um passeio. Entenda a profundidade da comparação: ao me obedecer, o Capi. não simplesmente consente às minhas vontades, ele também vive melhor, pois eu, dona amorosa que sou, quero o seu bem. A minha meta é que ele atinja um estado de calma e confiança em mim, para que ele reaja bem diante da presença de pessoas e situações estranhas pra ele. 


Divago nas falas do adestrador. De repente me vejo diante do espelho, olho nos meus olhos e pergunto internamente: “vocês estão fixos em quem?” Sondo em seguida os meus ouvidos, “a quem vocês ouvem melhor?”. E, então, a pergunta mais difícil: “quem tem as régias do meu coração?”.

Completamos um mês de treino. Vejo melhoras. Mas o teimoso Capitão continua estranhando pessoas amigas, preciso sentar perto dele e reforçar a sua confiança. “Calma, Capitão, Não! Não! Amigo, Amigo”.  São os comandos que ele precisa internalizar. 

"Junto, Capitão, junto"
“Calma, Liz. Sossega menina. Sossega menina. Liz, Liz!”... Ouço a voz do meu Adestrador.

O professor do Capi Está nos ensinando sobre comportamento canino, “se ele fecha a boca, fiquem atentos, ele pode estar preparando para morder”. O velho livro ensina-me sobre o comportamento humano. “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida”.

Completo muitos anos de caminhada, vejo melhoras, mas meu teimoso coração segue a divagar por águas deliciosamente sujas. Falo 'deliciosamente' porque o pecado tem suas próprias garras e coberturas de chocolate. Mas o manso Cordeiro me aquieta e traz para perto do seu pulsar, onde sou capaz de perceber que o chocolate era de lama. Então vejo claramente que perto dEle eu também vivo melhor. Recalibro os tinos dos meus ouvidos. Recebo os afagos do Manso adestrador de Almas. 

“Junto, Capitão, Junto”. Puxo levemente o cabresto para que o Capitão cole sua cabeça nas minhas pernas na hora de passar por um lugar perigoso. Provejo ao meu amigo um escape à tentação de entrar em uma briga de cão, basta ele colar sua cabeça em minha perna e seguir junto. Eu sei que é difícil pra ele, mas sei que fazendo assim ele não vai se machucar. 

No final do treino, petiscos, carinhos e água fresca. Amanhã tem mais!



Capitão, Pedro, João e eu (grávida do Davi) -- foto tirada 3 dias depois que ele chegou na nossa casa

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